sábado, 29 de junho de 2013

Ah! As Crianças







                          Não sou do tipo que acha que toda criança é um anjo de doçura, nem acho que toda criança seja um diabinho. Acho que elas, como todo ser humano, são ambas as coisas alternadamente e mais anjo ou mais diabinho de acordo com cada um. Mas as crianças são sinceras e quem pode resistir quando abrem um sorriso e de braços abertos pulam em nosso pescoço e nos envolvem num abraço e aos beijos dizem que nos amam. Nos faz tanto bem, enriquece a alma e nos faz felizes. Da vontade de chorar de emoção, afasta o cansaço, a tristeza, a angústia, recarrega nossas energias, traz alegria, desperta os sentimentos de amor, perdão, solidariedade, faz acreditar que é possível a paz e a ternura, a espontaneidade e a sinceridade. São chatas,  choram quando não devem, atrapalham os planos, querem respostas para perguntas que muitas vezes nem nós sabemos. Mas são maravilhosas  e não raro nos mostram uma solução.
                             Querem atenção cativa toda hora, todo dia, são egoístas e possessivas, mas são uns serezinhos deliciosos que não nos deixam esquecer o grande milagre da vida que se realiza constantemente diante de nós.
                               São cruéis, se bobearem, os pais e quem mais aparecer se tornam escravos delas; ordenam, não pedem; mas são encantadoras, carinhosas e precisam tanto da ajuda dos adultos para crescerem física, espiritual, moral e intelectualmente. São pequenos seres dependentes, moldados a cada dia, cada hora, cada gesto, cada palavra. É uma tarefa delicada e grandiosa para os adultos, que devem ser enérgicos, mas compreensivos; amigos, mas exigentes, devem mostrar que confiam, mas cobrarem responsabilidade, fazerem o possível para darem conforto e condições para crescerem, mas talvez o mais difícil e mais necessário, saber dizer "não", impor limites, mostrar que o respeito à liberdade do outro é tão importante quanto o respeito a sua liberdade.
                                Crescer é um todo que se faz de pequenos detalhes do dia a dia; que começa quando nascemos e não acaba mais. O adulto desempenha um grande papel nesse desenvolvimento. Difícil, mas compensador.

sábado, 1 de junho de 2013

Um Caso Passional




                
                          Há muito tempo Fábio vinha desconfiando da mulher, sentia que alguma coisa estava acontecendo, ela não era mais a mesma. Um dia ele até perguntou o que estava se passando.
                           - Não é nada Fábio, não estou me sentindo muito bem, é enxaqueca, logo passa. Só que não passou.
                            Começou observar as atitudes dela, distante, fria; um dia tendo voltado mais cedo pra casa não a encontrou. Quando ela entrou em casa, ele estava numa posição que podia observá-la sem ser notado e percebeu que estava agitada, com um brilho diferente no olhar. Disfarçando, como se não tivesse notado nada de estranho, apareceu e disse com a maior naturalidade, beijando-a de leve:
                             - Oi querida, tudo bem? Ela sobressaltou-se, ficou pálida, mas se recompôs logo.
                             - Chegaste cedo hoje, querido, eu estava na casa da Lúcia, fazia tempo que ela me cobrava uma visita. E Anita começou a desfiar uma porção de histórias e novidades que havia descoberto com a tal visita à amiga.
                               - Tu sabias que a Vera vai casar com o Paulo?
                               - Quem é Vera?
                               - Ah, Fábio, a Vera, aquela que estava de casamento marcado com o Jorge e depois acabou não saindo porque, segundo dizem, ele descobriu que ela era amante de um diretor de televisão que iria lhe arranjar um papel em uma novela.
                               - Agora eu lembro, e o Paulo é algum diretor de TV ou cinema?
                               - Não, é filho de um grande industrial, é riquíssimo.
                               Eles procuravam conversar normalmente, como se estivesse tudo bem, mas havia um grande mal estar entre eles, queriam parecer naturais, mas não dava, suas vozes, seus gestos soavam falsos, forçados.
                                À hora de dormir, na cama, ele tentava abraçá-la, beijá-la, ela se esquivava, dizendo-se indisposta e com dor de cabeça(sempre a dor de cabeça); ele aceitava, aparentemente, a desculpa como verdade, mas cada vez ficava mais convencido de que ela o traía, mas como não queria cometer nenhuma injustiça, resolveu investigar e decidiu que começaria a seguir a mulher pra saber se realmente ela tinha um amante e quem era esse amante.
                                 Depois de seguí-la durante um mês descobriu a verdade, ela o enganava sim e com aquele rapaz que um dia ao voltar mais cedo encontrou em sua casa e ela então lhe disse que era um primo distante que há muito não aparecia. E ele, idiota, acreditou.
                                 Mas agora era diferente, ele sabia a verdade e sabia muito bem o que fazer.
                                 Chegou em casa, ficou esperando por ela, pensando em todos aqueles anos em que viveram juntos, recordando os momentos felizes, é sim, porque eles foram felizes até que começaram as brigas, os desentendimentos e aí então tudo ruiu.
                                 Começou a planejar o ritual, escreveu uma carta para o jornal, foi até a caixa postal do apartamento pra colocá-la, voltou, preparou dois drinques, colocou um disco, pediu à empregada que preparasse um jantar especial, à luz de velas, arrumasse a mesa para um jantar romântico, com flores, champanha, tudo o que tinha direito, sentou-se e ficou pensando qual seria a melhor maneira.
                                  Uma facada, talvez. Não, facada dói muito e além do mais poderia fracassar na hora de enterrar a faca, afinal não é um assassino. Um tiro. Não. Um tiro, coisa mais seca, sem romantismo. O quê, então? Comprimidos? Sim, comprimidos, ou melhor, veneno. Isto. Veneno. Arsênico na última taça de champanha. Beberiam  da mesma taça, uma, depois a outra(se desse tempo). Sorriu triste ao imaginar a cara apavorada, desesperada que ela faria quando lhe contasse. Mas aí seria tarde demais. Mas tudo isso depois de se amarem, é sim, primeiro teriam que se amar, só então colocaria o seu plano em funcionamento. Teria que convencê-la a fazer amor com ele pela última vez, mas com todo aquele clima preparado ela não seria capaz de dizer não. Depois do brinde fatal contaria o que tinha feito. Ela ficaria desesperada, é claro, mas iria compreender. É claro que sim. E morreriam abraçados, nús, na cama, Nunca mais ninguém seria de ninguém. Nunca mais. Nunca mais...
                                     Um barulho na porta, é ela que vem chegando...
                                     No dia seguinte, no jornal a grande manchete na primeira página. "MARIDO MATA A MULHER E SE SUICIDA. POR CIÚME. POR TRAIÇÃO".