domingo, 24 de março de 2013

Rádio Felicidade



            

                       Aqui é a sua Rádio Felicidade, aquela que nunca deixa você na saudade.
                        Bom dia dona Joana, como vai? E o dom Juan? A dona Joana é a mulher do dom Juan...ah!ah!ah!...peguei você.
                         E você minha querida dona de casa, a "Rainha do Lar"? É sim, minha amiga, você é uma rainha, a rainha do seu lar. Bem, você minha amiga, preste atenção na pergunta de hoje. Você pode ser a sorteada e ganhar um lindo jogo de panelas pra fazer uma comidinha gostosa para o seu maridinho e os filhinhos. Ai, meu Deus, que comovente, eu fico até emocionado.
                          Bem, vamos à pergunta. Preste atenção. Qual é o produto de limpeza que limpa até o pensamento? Hein? Hein? Você sabe, não é? Claro que sabe. Você usa. Eu sei que usa; não que você precise limpar seus pensamentos. Claro que não.
                           Rádio Felicidade, a amizade que você precisava.
                           Você aí, minha amiga, liga pra Felicidade. Ela está com você dia e noite. Você sabia? 
                            Aqui a melhor programação da cidade(só tem esta rádio aqui). Mas, falando sério, aqui você tem música, esporte, política e informação. Qué mais? Qué mais?
                            Você quer ouvir a sua música preferida? Liga pra Felicidade.
                            Quer saber como se tira mancha de roupa? Aaaaqueeela mancha que não sai por nada? Felicidade resolve seu problema. Aqui temos tudo que o povão quer e precisa saber.
                            Você quer mandar aquele recado maneiro pra aquele alguém especial que você ama, aquela pessoa amada que vive no seu pensamento, no seu coração, mas que você vive sofrendo, chorando, porque ela não percebeu ainda esse amor maravilhoso que você tem pra dar? Se esse for o caso, Felicidade cuida dele pra você.
                              Felicidade, a Rádio que quer ver todo mundo feliz. Ahaaarra! Gostaram do trocadilho? Eu também. 
                          

domingo, 17 de março de 2013

Homens ou Ratos?




                          ...E era uma terra de ratos. Ratos que se devoravam, se odiavam. Ratos que sugavam seu próprio sangue nas veias dilaceradas de seus irmãos. Ratos que destruiam seus irmãos, ratos que destruiam os estranhos, os estrangeiros.
                          Animais mesquinhos que só sabiam odiar...matar. Ratos que não sabiam amar, que viviam na ilusão de lutar pra vencer. Vencer o quê, a quem? A si próprios. Devoravam-se e então quem mais devorava, quem mais odiava e quem mais agredia, estampava um sorriso amargo e cruel no rosto e dizia que tinha vencido.
                          Pobres animais estúpidos, desprezavam a harmonia da convivência, a felicidade de viverem em paz consigo e com os irmãos pra viverem no ódio. Ratos sem alma, ratos covardes que sem coragem de enfrentarem o verdadeiro inimigo - a ganância, a inveja e a mesquinhez dos seus corações - se atiravam uns contra os outros na cegueira imbecil e idiota do egoísmo e achavam, ou queriam achar, que quanto mais bens materiais, elogios e poder - falsos elogios e falso poder, por sinal; quem é falso só pode receber coisas falsas - recebessem, mais felizes seriam e então seriam vitoriosos. E assim essa estranha nação ruía, se desfacelava e seus pobres habitantes andavam às tontas, sem nada em que se apoiarem. Seus irmãos...Irmãos?! Estranha palavra que nada significava para eles. Pois é, não podiam contar com seus irmãos, com seus amigos, porque já haviam destruído tudo. Não havia mais sentimento, emoção, amor. Só ódio e uma grande amargura.
                  Andavam pelas ruas como se fossem fantasmas, seus corpos sem alma vagavam sem rumo pelas ruelas sem fim daquele mundo sem saída. Seus rostos eram tristes, suas expressões amargas, seus olhos sem brilho, apagados, seus passos eram pesados como se carregassem o mundo em suas costas.
                   O sorriso era uma careta grotesca e as lágrimas estavam congeladas. Tudo estava perdido. Era tarde demais. Queriam mudar, mas já não era possível. Tanto amor, tanta beleza, eles transformaram em ódio e sujeira, maldade e egoísmo. Nada mais restava. Eles se destruíram, se acabaram, se exterminaram...E então apareceu um gato...

domingo, 10 de março de 2013

Sentido Sem Sentido




                  
                   De repente, no meio de uma frase tudo acabou. Acabou? Mas começou? Tanta coisa pra falar, pra ouvir, tanto pra descobrir, pra ser descoberto. Acabou. Assim como não começou. Tantas emoções pra viver, tanto pra se conhecer deste iceberg que vislumbramos apenas a ponta. Tantas loucuras de amor por fazer, tanta paixão pra explodir. Tanto pra ser e não foi.
                   Faz sentido isso? Acho que não, mas nada faz sentido. Faz sentido rir e chorar, amar e odiar? Faz sentido viver apenas pra trabalhar, quando há tanta beleza pra explorar ? Faz sentido viver no ócio, quando há tanto por fazer? Faz sentido chorar por quem não ama, quando há tanto amor circulando no ar? Faz sentido desistir de quem ama por medo de não dar certo? Acabou. Por quê? Porque um pensou que tinha começado e outro não sabia que tinha começado. Porque um tinha medo de sofrer e o outro já estava sofrendo por antecipação. Faz sentido o que estou escrevendo? Nenhum, acho. Faz sentido esta crônica? Só o sentido de questionar o sentido. Tudo tem sentido, porque nada faz sentido. Nada faz sentido, porque tudo tem sentido.

domingo, 3 de março de 2013

Cidades...Amigas



             
                  Clara está sentada à beira de um lago e enquanto observa os cisnes nadando fica pensando nas recentes viagens que fez em visita a duas grandes amigas em cidades diferentes; uma litorânea, outra serrana. As duas de porte médio e muito bonitas.
                   A serrana é mais próxima e ela costuma ir com frequência, não só a passeio, mas também a serviço. Já à litorânea sempre foi a passeio. Fica pensando:
                     - Engraçado, a serrana embora uma cidade "quase" grande, parece mais uma extensão da minha cidadezinha querida. Tenho mais desenvoltura para andar por suas ruas, seus bairros. A litorânea mexe comigo de uma maneira diferente. Quando chego dá uma ansiedade, vontade de sair andando, de ir embora.
                      Ri triste olhando o balé dos cisnes e continua refletindo:
                      - Por que será? Sei lá...tantas coisas vividas, sentidas, tantas sensações, tantas recordações, boas algumas, doce...doce, outras nem tanto e outras bem amargas. Deve ser por isso.
                     Quando chega sente o impacto como se jogassem  uma pedrinha em suas águas interiores. Só de pensar fica inquieta, levanta e começa andar. A cidade serrana não causa todo esse rebuliço em sua alma. Sente-se adaptada, integrada imediatamente. Volta a sentar, agora em um banco à sombra.
                     A cidade litorânea traz à tona tantas histórias vividas, sofridas, sentidas. Aí dá uma vontade de fugir(como se adiantasse) e esta coisa meio doida faz uma confusão de sentimentos. Ela atrai e retrai...depois conquista. E quando chega a hora de partir e enquanto o ônibus vai passando pelas ruas, pelas casas, pelos campos, dá uma dor danada na alma, um aperto no coração, uma vontade de ficar, uma saudade antecipada. Vontade de voltar antes de ir. É tudo muito confuso e extenuante.
                     A tarde cai, o sol refletido no lago, com os cisnes nadando, parece uma tela pintada por Deus. Parece?! Fica olhando e pensa:
                     - Estou em casa. Minha cidade é minha casa. Visitei minhas amigas, o que é sempre um bálsamo para a vida. Mas acabei pensando nas cidades, tão bonitas e complexas. A serrana com suas ondulações e as serras sensuais  se desdobrando curvilíneas até não se sabe onde. A litorânea com sua planura a perder de vista e o mar...maravilhoso e envolvente mar.
                     Levanta, volta lentamente pra casa, sentindo o aroma das flores, o vento no rosto, a magia do momento. Está mais leve, mais livre. Sorri.