sábado, 7 de dezembro de 2013

Resgate




     


    

                        Cadê o sorriso dessa boca? O brilho desses olhos? Onde foram parar? Em que canto se esconderam? Em que recôndido da alma estão? Quero buscá-los. E o rosto sereno, por que tão tenso? E a boca sensual, por que tão contraída?  E o corpo leve e solto, atraente e curvilíneo, por que tão contido, tão encolhido? E o andar ondulante, onde está? E a cabeça erguida, buscando o horizonte, por que está tão cabisbaixa? E a paz profunda e luminosa que emanava desse olhar, onde foi parar? O que fizeram contigo? O que fizeram comigo? O que fizeram com a gente?
         Tudo isso se perdeu onde, quando, por que, pra quê? É preciso resgatar essa força submergida, fazer aflorar, inundar de vida, vibrar de emoção, tomar conta desse Ser. É preciso te resgatar, me resgatar, nos resgatar.       
                  

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Meu Idolo...de Barro




             



                        E meu ídolo não era de ferro, nem de jade, bronze, pedra, prata ou ouro. Meu ídolo não era de nada que fosse sólido, consistente, nobre, imune às intempéries. Meu ídolo era de barro e como tal  se esfacelou, desmoronou e com ele a fã, a admiradora e toda uma legião de seguidores.
             Meu ídolo foi visto dirigindo embriagado. Era fim de festa, errar é humano...ninguém é perfeito...Mas será que não foi um engano? Era ele mesmo? E estava mesmo embriagado? Tomara que não...Mas ficou aquela dúvida incômoda. Não devia ter acontecido...Uma lasquinha se soltou.
         Outro dia arrumou confusão com um recepcionista de um hotel de luxo. Que pena! Mais uma lasquinha.
                  A televisão mostra uma cena chocante: meu ídolo partindo pra cima de um jornalista que tentava entrevistá-lo. Outra lasca.
            E meu ídolo agrediu a mulher que registrou queixa e pediu proteção policial. Deus, não é possível. Ele fez isso?! Um grande pedaço desmoronou e desfacelou.
            De repente meu ídolo se tornou celebridade pelo avesso. Foi visto envolvido com traficantes, consumindo drogas, embriagado, prostituindo.
                       Não acredito! Meu ídolo, meu herói, de quem eu bebia as palavras, maravilhava-me com seu talento, com suas atitudes humanitárias e éticas. Tudo fachada. Tudo falso. Falso o seu interesse social, o seu discurso nas entrevistas, nos programas de televisão, cobrando das autoridades competentes atitudes para ampliar o mercado de trabalho, gerando empregos para melhorar e dignificar o ser humano. Quanta balela! Quanta demagogia! Meu ídolo, de sorriso franco, olhar profundo, gestos espontâneos. Como pode enganar tanto assim?! 
                 Meu ídolo continua encantando com seu talento, com as maravilhas que cria, que faz(quando não está envolvido em alguma confusão), mas meu ídolo era de barro e virou pó, deixando um grande vazio e uma decepção maior ainda. Meu ídolo...de barro.
                 

sábado, 12 de outubro de 2013

Um Rosto no Espelho






              Olho  no espelho e vejo um rosto, um rosto que me olha de um jeito meio irônico, meio debochado, a boca mostra num ritus esquisito a desconfiança  e o desalento de quem não acredita em ninguém, nem mesmo em si. O nariz normal, talvez um pouco grande para o rosto, cumpre indiferente o seu papel. O cabelo que emoldura esta emoção, porque o rosto é pura emoção, puro sentimento, bem, o cabelo é leve, suave e rebelde. Analiso cada traço, cada gesto e por fim quando encontro os olhos percebo porque os deixei por último; temia o confronto. Eles são implacáveis, profundos, cruéis comigo, desvendam minha alma, fazem mil perguntas e querem respostas, respostas verdadeiras. Gritam pra mim naquele silêncio terrível que não sou melhor que o resto da humanidade, talvez, pelo contrário, seja pior, já que tenho a pretensão de acreditar em certos valores. Mas será que acredito mesmo ou QUERO acreditar? Me chamam de egoísta e covarde e quando nego, me perguntam cruéis e sarcásticos se eu seria capaz de dar um objeto que eu gosto, aquela roupa preferida, o disco, o livro? Seria? Vamos, responde!
                         Tento argumentar que se fosse realmente importante seria. Mentira, acusam. Hipócrita. Quem vai determinar a importância? Tu? Não nos faça rir. E o lampejo de deboche que lançam é terrível. E o amor das pessoas que amas serias capaz de partilhar com os outros? Sim, respondo. É mesmo?! E o amor do homem que amas dividirias com outra? Nunca, repondo e então eles gargalham. Viste? És egoísta sim. És igual a todos os outros. Egoísta! Egoísta! Tento argumentar que este tipo de amor é diferente. Ninguém normal aceitaria dividí-lo com outra ou outro, dependendo do caso. Por que eu teria que ser a mártir, aceitando tudo, isso não seria virtude, seria degradação humana. Por quê, perguntam, achas que podes ser a dona de uma pessoa, controlá-la, sufocá-la, tê-la só pra si?  Egoísta! Egoísta! A maneira como brilharam me sacudiu. Percebo horrorizada que meus olhos querem me enlouquecer. Penso com a alma e ao mesmo tempo vejo-a estampada em minha frente, através dos meus olhos.
                       Quero fugir deles, mas o magnetismo que desprendem  é tão forte que não consigo. Paro. Resolvo enfrentá-los. Olho-os no fundo, bem no fundo, ficamos assim por intermináveis minutos; descubro que estavam me testando e o resultado foi positivo. Fui sincera. Ninguém é melhor que ninguém, mas alguns se deixam dominar com mais facilidade pelas fraquezas humanas e pelos vícios; outros conseguem dominar mais essas fraquezas e vícios. Minhas dúvidas em relação aos meus sentimentos e ao egoísmo causam com certa frequência esse tipo de confronto, doloroso, mas enriquecedor.
                 Afinal, meus olhos não queriam me destruir, mas me questionar, me sacudir, avaliar...ou reavaliar a maneira dura, exigente e às vezes crítica demais, quase cruel e intransigente como cobro de mim e, consequentemente dos outros. Através dos meus olhos cheguei até minha alma e neste encontro nos fundimos, nos integramos e desta viagem interior voltei revigorada e em Paz. Em minha alma encontrei Deus.

domingo, 6 de outubro de 2013

É Primavera!



     



                         A primavera coloca no ar um perfume de flores, de amores, o coração cria asas e quer voar, a alma fica inebriada e louca e desvairada só quer liberdade, se expandir, ir além dos limites, a mente fica assim meio que baratinada e os pensamentos se atropelam. É primavera.
              O corpo em ebulição e o sangue em efervescência parecem um vulcão prestes a entrar em erupção. É primavera.
                 Flores desabrocham, desejos explodem, o sol aquece, o frio se insinua, vento sopra, temporais acontecem e chuva chega lavando tudo. É primavera. Até a Natureza fica meio maluca.
                  Explosão de verde, profusão de cores, sinfonia de pássaros, bailado de borboletas. É primavera. Explosão de vida.
                   

sábado, 21 de setembro de 2013

Lua




       

                    Esta mesma lua que vejo aqui, quantas pessoas mais, nos mais diversos lugares, estão vendo, sonhando magnetizadas sob o efeito de sua luz?
                                  Esta mesma lua  que agora me encanta, está pendurada nos céus das cidades e campos do nosso Estado, País e de tantos outros países e recantos do Universo. Tantas culturas, crenças, sentimentos diferentes e ela soberana, encantando a todos sem distinção. É fascinante!
         A mesma lua nas grandes e pequenas cidades, nos campos, nas matas, mergulhada nos mares, nos rios; espichada numa cachoeira, torcida, quebrada, nos lagos, nas poças d'agua ou em qualquer outra superfície que lhe sirva de espelho.
                Derramando sua luz, sem discriminação, sobre os alegres e os tristes, os que sofrem e os que estão felizes, os que riem e os que choram; sobre os ricos e os pobres, os crentes e os descrentes.
              A todos ela mostra sua beleza, a todos ela se dá, sem preconceitos, sem reservas, indiferente, apenas se derrama sobre tudo e sobre todos. Apenas se dá. Aos namorados e aos solitários, aos que brincam e aos que brigam, aos que amam e aos que odeiam. 
           Por sobre todos ela se derrama e penetra nos quartos dos amantes, atrevida banha com sua luz corpos nus e apaixonados, sabe de segredos jamais revelados, espia carinhosa e furtiva a lágrima de alguém na solidão de seu quarto e beija-lhe o rosto ternamente, ou travessa, brinca com o sorriso solitário pendurado num rosto sonhador que surpreende ao entrar por uma janela semi-aberta.
               Lua. Usada como cúmplice de quem quer seduzir. Usada como cúmplice de quem quer ser seduzido.
            Lua. Cantada em verso, cantada em prosa, fonte inesgotável  de poetas e compositores. Misteriosa e bela. Lua cheia de encantos e mistérios. Lua.
                Em todas as suas fases exerce influência sobre as pessoas. Em cada uma de suas fases existe uma porção de coisas que se pode  e não se pode fazer, que se deve ou não fazer. Mas a lua cheia é a mais misteriosa. Lua dos lobisomens e assombrações, mas também, das paixões e do romantismo. Tantas lendas e crendices, mistérios e encantos, giram em torno desse pontinho luminoso que nos deixa boquiabertos com tanta beleza.
           Nas canções sofisticadas e nas canções ditas bregas tu apareces; testemunha discreta...ou indiscreta...de beijos e abraços, sussurros e palavras loucas, de carinhos roubados e amores proibidos, mas também de grandes e verdadeiros amores; companheira cúmplice dos namorados, amiga silenciosa e querida dos que estão sozinhos, tristes, alegres, felizes ou emocionados.
                 Lua. Simplesmente Lua.

   

sábado, 7 de setembro de 2013

Um Filho





              Nome: Mirna Vernetti Siqueira; estado civil: solteira; idade: 28 anos; profissão: gerente  de vendas de uma das lojas da rede Cáritas. Documentos todos em ordem: Cédula de Identidade, Título de Eleitor, CPF, tudo. E ainda mais: talões de cheque, cartões de crédito, tudo provando e comprovando que ela é ela mesma.
              Eles só não mostram a Mirna interior, não dizem, por exemplo, que ela detesta livros, música e festas, mas gosta de cinema, teatro e televisão.
        Não dizem também que não acredita em amor, acha o casamento uma coisa horrível e detesta sexo. Mas, apesar disso, deseja ardentemente um filho. Um filho pra chamar de seu. Assim como certos homens precisam de um filho pra ter certeza de sua masculinidade, ela precisa de um filho pra se sentir realizada. Por isso está aqui, nesta sala de parto, com o ventre túmido, atravessado por dores lancinantes. Mas ela queria um filho, um filho dela, só dela.
          Há mulheres que nascem pra serem esposas, profissionais, mães, amantes e há aquelas que nascem pra serem MULHERES, assumindo todas as suas faces. Mulher de verdade, autêntica. Mulher em sua totalidade, no verdadeiro e sublime sentido da palavra. MULHER. GENTE. Mas ela nasceu pra ser mãe. Mãe e profissional. Apenas isso.
       Teve muitos namorados, até um noivo, quando faltavam poucos dias para marcarem a data do casamento terminou tudo. Não sentia nada com nenhum deles. Tinha nojo até. Ficava admirada quando as amigas contavam excitadas que sentiam isso e aquilo com os carinhos dos namorados. Pra ela esses carinhos eram insuportáveis, verdadeira tortura, sentia repugnância  daqueles beijos molhados, daquele corpo colado ao seu, vibrando de desejo, daqueles braços envolvendo-a, daquelas mãos passeando pelo seu corpo. Sentia asco. Achava ridículo.
        Depois do noivo ainda teve outros namorados, outros casos, mas desistiu. Não quis saber de ninguém mais. Mas queria um filho. Poderia adotar, mas queria que brotasse de suas entranhas, sentí-lo crescendo dentro dela.
        Agora chegou a hora dele nascer. Sinceramente o ato sexual não compensa esta dor terrível, mas o filho, ah! o filho compensa até sofrimento maior.
                     Quando decidiu que teria o seu filho, fez uma longa viagem. Hospedou-se num hotel e começou observar os hóspedes até encontrar alguém que servisse. Depois de colher todas as informações necessárias escolheu um homem bonito, ativo, inteligente, saudável, sem nada que desabonasse sua conduta.
                O resto foi fácil, não foi difícil seduzí-lo. O difícil foi ir para a cama com ele. Era ardente, carinhoso e apaixonado, mas ela conseguiu abreviar aquele ato ao mínimo necessário. Muitas mulheres com certeza adorariam estar com ele, mas ela não aguentava mais, estava enjoada e não via a hora daquilo tudo terminar.  
                        Deixou o hotel na mesma noite e na semana seguinte já estava trabalhando.
                      Está cansada, a dor lhe tira o fôlego, mas só pensa no filho que está nascendo. O seu filho.
                       O médico segura o bebê que chora com força e diz que é um lindo menino, forte e saudável.
                        Então ela sorri olhando o seu filho, o seu filho tão querido, tão desejado, aquele filho que é só dela, só dela e de ninguém mais. O seu filho.
               

sábado, 24 de agosto de 2013

Amor...


      
        
         É noite. Chove. Chove torrencialmente. O vento sopra forte, penetra através das janelas e portas. Uma música suave se espalha pela sala, me amolece, me faz lembrar de ti. Sinto frio. O calor que se desprende da lareira aquece meu corpo, mas é incapaz de aquecer minha alma. Sinto frio. O frio da saudade me enregela a alma. Só tu tens o poder de aquecê-la. Na lareira as chamas dançam  projetando na parede sombras que se abraçam, se entrelaçam e se chocam.
             Tenho um livro nas mãos, mas na verdade nem sei o título, nem o autor. Estou pensando em ti e no nosso amor.
               Quase adormeço embalada pela música, sinto o calor que vem da lareira e penso que é o teu amor que me aquece, chego quase sentir o teu corpo no meu, mas acordo. Tudo é silêncio. A sala está vazia. Só a música continua. E as chamas na lareira. Sinto frio. Sinto saudade. Meu Deus, que saudade! Não pensei que a saudade doesse tanto, que amar doesse tanto. Mas é tão bom te amar, tão bom ter o teu amor.
                  Tinha tanto medo. Os sentimentos me assustam. O amor me assusta. Tu me ensinaste a amar sem medo, sem reservas. Como? Simplesmente me amando. Penetraste minha alma, meu coração e te instalaste assim, sem me pedir licença. Agora já fazes parte de mim. 
                    Eu sei, meu amor, que agora, neste exato momento, também tu estás pensando em mim, eu sinto. Nosso amor é tão forte que eu sinto o teu pensamento e sei que sentes o meu também. Algo muito forte nos une. Tão forte que chega ser assustador e maravilhoso ao mesmo tempo. Tão maravilhoso que chego a ouvir os anjos cantando pra nós uma marcha nupcial, a nossa canção de amor. Ou será que já estou dormindo e sonhando contigo, como sempre? Amor, sinto frio...sinto saudade. Vem logo amor... vem logo...Amor...Vem...Vem...Amor...Amor...
 

            


          

domingo, 18 de agosto de 2013

Mosaico




                 
       


                   - Uma criança se solta da mão da mãe,  corre pra mim e se agarra em minhas pernas.
                   - Um homem bonito passa, me olha, cumprimenta e sorri.
                    - Um casal de namorados sentado na soleira de uma porta com cara de tédio. Será que estão apaixonados?
                    - Uma mulher grávida passa lentamente, carregando no ventre um pobre inocente e todo o seu ser é uma prece para que aquela criança seja feliz. Feliz? Ninguém é.
                    - Várias pessoas passam apressadas, olhares distantes, rostos pesados, tensos; sorrisos, gargalhadas, uma criança chora, outra pede colo.
                    - Outra gestante passa sorridente vivendo intensamente o milagre de trazer no ventre um ser, uma nova vida.
                      - Um casal discute ferozmente como se o destino da humanidade dependesse deles e do que resolvessem(talvez da humanidade não, mas o deles sim). 
                                    - Outro casal está aos beijos e abraços, esquecido de tudo e de todos.
                      - Uma criança pega minha mão ao passar por ela, solta a mão da mãe e me segue. O que fazer?
                 - Numa fila de banco alguém fala ao telefone comentando uma agressão que uma mulher sofreu sendo jogada contra a parede, ficando quase inconsciente, mas felizmente conseguiu pedir ajuda. 
                             - Um homem bonito, charmoso e atraente passa lentamente e com voz quente e sensual diz que sou linda. Valeu o dia. 
                               - Um casal, faces marcadas pelo tempo, andar não tão firme, passam de mãos dadas; um doce sorriso nos lábios e um brilho nos olhos denunciam o estado de graça em que se encontram por estarem juntos.
              
                            


                          

domingo, 4 de agosto de 2013

Simplesmente Pensamentos






            - Na verdade tu já me amas, apenas não sabes. Quando souberes, vem me dizer. Te espero. Mas não demores. Posso cansar de esperar e desistir de ti.




              -  Eu não penso pra escrever; eu escrevo pra pensar.




              - Vontade de sumir, desaparecer, cair na estrada, abandonar tudo; medos, tristezas, desilusões, frustrações, decepções. incertezas, dúvidas. Fugir...Fugir... Pra onde? De quem? Por que? Pra que? Com quem? Em busca do quê? Do que perdi ou do que deixei de conquistar? Fugir simplesmente. Talvez de mim mesma. Fugir...Mas de que adianta? Se por onde eu for, irei comigo.

domingo, 28 de julho de 2013

Pensamentos


 




                           O vento que sopra agita minha alma. A chuva que cai me faz terra fértil. Minha cabeça que pensa me faz corpo latente. Mas será minha cabeça que pensa? Ou serão os pensamentos que a pensam...ou me pensam? Sou campo minado prestes a explodir; os pensamentos são pequenas minas(pequenas, mas perigosas) prontas pra detonar. A chuva bate na janela com a violência da Natureza em ebulição, o vento infiltra-se pelas frestas, faz as árvores se vergarem a sua vontade. Um frio insinuante arrepia a pele. Vontade de ter-te ao meu lado, sentir teu calor, teu carinho. Oh! mas do que estou falando? De sonho ou realidade? Não sei. Que importa? Os pensamentos se embaralham. Os sentimentos se confundem. Mas este vento sopra, arrasta, leva as nuvens pra lá e as trazem de volta, numa dança frenética. Meus pensamentos enlouquecem, enveredam pelos mais diversos caminhos e direções, se misturam, se atropelam, me levam a extremos de alegria e tristeza, confiança e desespero.
                            A chuva escorre pelos vidros da janela, formando desenhos estranhos; fico olhando hipnotizada e de repente não sou EU, gente, pessoa; sou um pensamento que me pensa. E aí surge a dúvida; sou um bom pensamento? Ou não? Vigiai os pensamentos. Os bons pensamentos contribuem pra nossa felicidade e para que sejamos bem sucedidos. Por outro lado, os maus pensamentos destroem e arrasam.
                             O vento e a chuva voltam mais forte depois de uma pequena pausa. O vento consegue ultrapassar as barreiras e chega até mim, sopra no meu ouvido um poema louco e travesso...e vai embora; a chuva que veio em sua carona respinga meu rosto numa suave carícia, refresca minha alma e vai embora acompanhada do vento. Me deixam estonteada. Perdi a noção de tempo e espaço, estou como que em transe. Na ciranda da vida quem gira sou eu na velocidade dos pensamentos.
                              Dizem que quando a gente pensa o Universo se movimenta. Tenho medo. Oh! meu Deus, espero que o Universo não se descontrole, não entre em "parafuso" de tanto e tão intensamente que penso.
                              Não é muito agradável sentir-se uma "coisa" pensante, perder o controle, ser dominada, sugada, arrebatada sem conseguir reagir e o pior é que na maioria das vezes são os maus pensamentos que ME envolvem. É preciso travar uma batalha com eles. E como são fortes! Entrar em confronto direto com eles não é muito inteligente. Quase sempre acabamos derrotados e cansados. O melhor é deixá-los passar e tentar resgatar de algum recanto de nosso ser a porção divina que existe em nós, concentrar-se nela, procurar torná-la forte e envolvente. É tão difícil, mas é preciso encontrar esta luz. É preciso. É preciso. Tou cansada. Minha cabeça está ora vazia, ora cheia de pensamentos loucos. O vento e a chuva ora acalmam, ora se intensificam. Como os pensamentos. Como a vida.  

                     



                    

sábado, 29 de junho de 2013

Ah! As Crianças







                          Não sou do tipo que acha que toda criança é um anjo de doçura, nem acho que toda criança seja um diabinho. Acho que elas, como todo ser humano, são ambas as coisas alternadamente e mais anjo ou mais diabinho de acordo com cada um. Mas as crianças são sinceras e quem pode resistir quando abrem um sorriso e de braços abertos pulam em nosso pescoço e nos envolvem num abraço e aos beijos dizem que nos amam. Nos faz tanto bem, enriquece a alma e nos faz felizes. Da vontade de chorar de emoção, afasta o cansaço, a tristeza, a angústia, recarrega nossas energias, traz alegria, desperta os sentimentos de amor, perdão, solidariedade, faz acreditar que é possível a paz e a ternura, a espontaneidade e a sinceridade. São chatas,  choram quando não devem, atrapalham os planos, querem respostas para perguntas que muitas vezes nem nós sabemos. Mas são maravilhosas  e não raro nos mostram uma solução.
                             Querem atenção cativa toda hora, todo dia, são egoístas e possessivas, mas são uns serezinhos deliciosos que não nos deixam esquecer o grande milagre da vida que se realiza constantemente diante de nós.
                               São cruéis, se bobearem, os pais e quem mais aparecer se tornam escravos delas; ordenam, não pedem; mas são encantadoras, carinhosas e precisam tanto da ajuda dos adultos para crescerem física, espiritual, moral e intelectualmente. São pequenos seres dependentes, moldados a cada dia, cada hora, cada gesto, cada palavra. É uma tarefa delicada e grandiosa para os adultos, que devem ser enérgicos, mas compreensivos; amigos, mas exigentes, devem mostrar que confiam, mas cobrarem responsabilidade, fazerem o possível para darem conforto e condições para crescerem, mas talvez o mais difícil e mais necessário, saber dizer "não", impor limites, mostrar que o respeito à liberdade do outro é tão importante quanto o respeito a sua liberdade.
                                Crescer é um todo que se faz de pequenos detalhes do dia a dia; que começa quando nascemos e não acaba mais. O adulto desempenha um grande papel nesse desenvolvimento. Difícil, mas compensador.

sábado, 1 de junho de 2013

Um Caso Passional




                
                          Há muito tempo Fábio vinha desconfiando da mulher, sentia que alguma coisa estava acontecendo, ela não era mais a mesma. Um dia ele até perguntou o que estava se passando.
                           - Não é nada Fábio, não estou me sentindo muito bem, é enxaqueca, logo passa. Só que não passou.
                            Começou observar as atitudes dela, distante, fria; um dia tendo voltado mais cedo pra casa não a encontrou. Quando ela entrou em casa, ele estava numa posição que podia observá-la sem ser notado e percebeu que estava agitada, com um brilho diferente no olhar. Disfarçando, como se não tivesse notado nada de estranho, apareceu e disse com a maior naturalidade, beijando-a de leve:
                             - Oi querida, tudo bem? Ela sobressaltou-se, ficou pálida, mas se recompôs logo.
                             - Chegaste cedo hoje, querido, eu estava na casa da Lúcia, fazia tempo que ela me cobrava uma visita. E Anita começou a desfiar uma porção de histórias e novidades que havia descoberto com a tal visita à amiga.
                               - Tu sabias que a Vera vai casar com o Paulo?
                               - Quem é Vera?
                               - Ah, Fábio, a Vera, aquela que estava de casamento marcado com o Jorge e depois acabou não saindo porque, segundo dizem, ele descobriu que ela era amante de um diretor de televisão que iria lhe arranjar um papel em uma novela.
                               - Agora eu lembro, e o Paulo é algum diretor de TV ou cinema?
                               - Não, é filho de um grande industrial, é riquíssimo.
                               Eles procuravam conversar normalmente, como se estivesse tudo bem, mas havia um grande mal estar entre eles, queriam parecer naturais, mas não dava, suas vozes, seus gestos soavam falsos, forçados.
                                À hora de dormir, na cama, ele tentava abraçá-la, beijá-la, ela se esquivava, dizendo-se indisposta e com dor de cabeça(sempre a dor de cabeça); ele aceitava, aparentemente, a desculpa como verdade, mas cada vez ficava mais convencido de que ela o traía, mas como não queria cometer nenhuma injustiça, resolveu investigar e decidiu que começaria a seguir a mulher pra saber se realmente ela tinha um amante e quem era esse amante.
                                 Depois de seguí-la durante um mês descobriu a verdade, ela o enganava sim e com aquele rapaz que um dia ao voltar mais cedo encontrou em sua casa e ela então lhe disse que era um primo distante que há muito não aparecia. E ele, idiota, acreditou.
                                 Mas agora era diferente, ele sabia a verdade e sabia muito bem o que fazer.
                                 Chegou em casa, ficou esperando por ela, pensando em todos aqueles anos em que viveram juntos, recordando os momentos felizes, é sim, porque eles foram felizes até que começaram as brigas, os desentendimentos e aí então tudo ruiu.
                                 Começou a planejar o ritual, escreveu uma carta para o jornal, foi até a caixa postal do apartamento pra colocá-la, voltou, preparou dois drinques, colocou um disco, pediu à empregada que preparasse um jantar especial, à luz de velas, arrumasse a mesa para um jantar romântico, com flores, champanha, tudo o que tinha direito, sentou-se e ficou pensando qual seria a melhor maneira.
                                  Uma facada, talvez. Não, facada dói muito e além do mais poderia fracassar na hora de enterrar a faca, afinal não é um assassino. Um tiro. Não. Um tiro, coisa mais seca, sem romantismo. O quê, então? Comprimidos? Sim, comprimidos, ou melhor, veneno. Isto. Veneno. Arsênico na última taça de champanha. Beberiam  da mesma taça, uma, depois a outra(se desse tempo). Sorriu triste ao imaginar a cara apavorada, desesperada que ela faria quando lhe contasse. Mas aí seria tarde demais. Mas tudo isso depois de se amarem, é sim, primeiro teriam que se amar, só então colocaria o seu plano em funcionamento. Teria que convencê-la a fazer amor com ele pela última vez, mas com todo aquele clima preparado ela não seria capaz de dizer não. Depois do brinde fatal contaria o que tinha feito. Ela ficaria desesperada, é claro, mas iria compreender. É claro que sim. E morreriam abraçados, nús, na cama, Nunca mais ninguém seria de ninguém. Nunca mais. Nunca mais...
                                     Um barulho na porta, é ela que vem chegando...
                                     No dia seguinte, no jornal a grande manchete na primeira página. "MARIDO MATA A MULHER E SE SUICIDA. POR CIÚME. POR TRAIÇÃO".
                              

terça-feira, 21 de maio de 2013

Risos e Lágrimas




                 Rir é  bom, oxigena  a   mente, libera as  tensões, chorar...bem, chorar nos deixa um travo amargo na garganta, escurece o semblante.
                 Rir alegra o rosto, coloca um brilho no olhar, faz o sangue circular, Chorar. Chorar incha os olhos, deixa o rosto vermelho e intumescido.
                  Rir irradia energia  positiva, atrai os anjos. Chorar irradia energia negativa, afasta  os  anjos.  Risos  e  Lágrimas.  Antagônicos  e  tão  radicalmente diferenciados. Mas...será tão simples assim, ou melhor, tão simplista assim estas definições?
                  Rir significa alegria, felicidade. Chorar significa tristeza, infelicidade? Nem sempre.  Rir  pode  ser  um  estado  de  agitação  incontrolável  e  chorar pode ser uma explosão de felicidade.
                  Rir  é  gostoso,  faz  bem, alegra ambientes. Aquele riso que brota do fundo da  alma  e  se  espalha  por  todo  o ser. Há risos e risos. Há o riso alegre, espontâneo, descompromissado,  há  o  riso  doce  que  desperta ternura, o riso sensual provocando desejos,  o  riso  terno  consolando,  o  riso  debochado,  irônico,   que causa uma certa antipatia e mágoas, o riso cruel que fere, o  riso  provocante  que  irrita.  E assim como há risos e risos, há lágrimas e lágrimas. Há lágrimas provocadas por uma   grande  dor,
uma grande tristeza. Ah, essas lágrimas doem tanto, doem o corpo, o rosto, queimam os olhos, a boca, apertam a garganta como se fossem nos enforcar, esmagam a alma  como se quisessem tirá-la fora de nós.  Mas  quando  explodem  causam um grande alívio, é verdade  que  misturado  com  um  imenso  vazio, mas  que faz bem porque desativam as    tensões.   E  as  lágrimas   da  angústia?   Nos  deixam   num  estado  de  profunda prostração.  Um  buraco  negro   na  alma,  um  abismo  sem  fim   e  seco. Vontade de chorar. Ou melhor, de poder chorar, mas cadê lágrimas?  Em que recôndidos labirintos
 foram  se  esconder?  Às vezes  conseguimos  chorar  e  quando isto acontece é muito bom, mas vezes  há  em  que a  angústia vem e vai e as lágrimas não aparecem pra nos libertar.
                   Há também aquelas lágrimas que surgem não se sabe bem nem como, nem porque,  simplesmente  nos   sentimos tristes,  diferentes,  inquietos, parece que somos pequenos demais para os nossos sentimentos e pensamentos,   não cabemos   em nós e então nos expandimos em lágrimas.
                    E  quando  a  felicidade  é   intensa demais,  forte demais, a emoção toma conta  do  nosso  ser  e  temos  a  impressão  de  que  estamos  nos desmanchando, nos desfazendo  e  nos  fundindo  novamente.  Quando  nos  sentimos   apenas sentimento, alma,   coração,   emoção   e   nossos   pensamentos   ficam   meio  desvairados,  meio concentrados,  sem   saberem  exatamente   que   rumo  tomar,  até  se  decidirem  por integrarem  e  participarem  desse  momento  de  extrema beleza e êxtase profundo, aí então  não  basta  o  riso  e   não basta a lágrima. Um só é pouco. Acontece a suprema explosão  que  arrebata,  que  enlouquece  e que transforma risos e lágrimas dois lados de uma mesma  moeda, onde o Humano e  o Divino  se  unem, fazendo do ser humano
um ser quase(quase?) Divino.

domingo, 19 de maio de 2013

Meu Filho(ou Filha)




                     Está parada, imóvel, estagnada, subjugada; a angústia é tanta e tão profunda que chega doer, que chega ser nada. A prostração é total. É só preocupação, medo, pavor. Parece um zumbi, está em estado catatônico.
                       Pensa: meu filho, que bom que não te trouxe pra cá. Eu sei, meu filho, que onde estiveres tu sabes que não te trouxe, não porque não te quero, não te amo, mas pelo contrário, porque te amo demais. Não suporto a idéia de te ver sofrendo deste jeito. A angústia e a aflição são terríveis e o pior ainda é saber que se vai aguentar, que se vai continuar sofrendo e sobrevivendo.
                       Sabe, meu filho, muita gente me condena por eu pensar assim, nem expresso muito minha opinião pra não causar um mal estar.
                        Uma certa pessoa uma vez me chamou de egoísta. Imagina! Egoísta porque não te trouxe pra este caos. Magoou bastante. Tanto que respondi de imediato: egoísta são vocês que querem se perpetuar nos filhos...Tá...Eu sei. Foi um pouco agressivo da minha parte. Mas é que eu tava bastante machucada, chocada com o comentário.
                         Meu filho, te amo tanto que só de pensar em te trazer pra cá, me dá um nó na alma.
                         Sabe, filho, quando vejo uma criança fico pensando: Pobrezinha! Não sabe o que a espera.
                          No momento em que aterrissa aqui já é um problema atrás do outro. Isto sem falar no tempo enclausurado no útero, o rito da passagem e a angústia do nascimento que nos acompanha por toda a vida.
                          Os problemas, as preocupações são uma constante em nossa vida. Claro que sempre de acordo com o momento e a circunstância. Os problemas e preocupações de uma criança são diferentes dos de um adolescente, jovem, adulto ou idoso, mas igualmente sérios para cada um.
                           Pra começar já chega chorando e se não chora leva palmada. Depois, dor de ouvido, cólica, fome, sede, fralda pra trocar. E as pessoas que somem e então tem que botar a boca no mundo pra aparecerem e resolverem o problema ou então são aquelas pessoas chatas que pensam que criança é palhaço ou marionete e ficam falando e dizendo: faz isto, faz aquilo, bate palminha, atira beijinho. Depois são as quedas, o joelho esfolado, as pernas raladas. Logo vem a Escolinha e aí não para mais. Mas tudo isto é quase insignificante em comparação com o que vem depois e isto meu filho é só o dia-a-dia comum das pessoas. Preocupação com estudos, trabalho(ou a falta dele), preocupação constante com as pessoas queridas, pai, mãe, irmãos, familiares, amigos, saúde, relacionamentos afetivos, mágoas, traições, humilhações, decepções, frustrações, desilusões, medos, crises existenciais, arrependimentos. Ah, é tanta coisa sufocando, oprimindo, comprimindo...Claro, existem  momentos...momentos...felizes, mágicos, bons e até penso nestes momentos que poderia ter te trazido, mas estes momentos são tão fugazes e já voltam as preocupações, as angústias, as aflições...
                  Sabe, filho, as crianças gostam tanto de mim que acho até que estás um pouco em cada uma, assim como acho que estás um pouco nas pessoas que correm pra mim quando têm qualquer problema.
                   Ah, meu filho, não tenho nem força pra me movimentar, tanta preocupação, tanta angústia...esta aflição tomando conta e jogando no fundo do abismo mais profundo. Aflição que dilacera alma e coração, esta dor sem nome no fundo mais fundo do íntimo abalando todo o ser e as horas não passam e ao mesmo tempo voam. Que cansaço!
                      Meu filho, nestas horas eu agradeço a Deus por não ter te trazido pra cá.
                      Meu Deus, obrigada por não ter filhos. Não suportaria vê-los passar por isto. Me sentiria sempre culpada.
                       Eu sei, meu filho, que onde estiveres tu me entendes e sabes que foi por te amar demais que nunca pensei em te trazer pra este mundo louco e cruel. Ah, meu filho, como te amo!
                        

                        

domingo, 5 de maio de 2013

Que Sei Eu?




             

                  Primavera. Chove torrencialmente(que frase surrada!), mas é verdade. Chove. Chove muito. Mas é Primavera. Então deveria haver sol quente, ar um pouco esfumado e flores. Mas chove. E daí? Que sei eu da Primavera e de suas explosões de cores, vida, amores? Que sei eu do Inverno, seu frio(que aquece), do vento que sopra, que arrebata e enlouquece? Que sei eu do Verão e das suas cores fortes e vibrantes, do seu calor que amolece, entorpece, embriaga...? Que sei eu do Outono e da sua louca magia, da sua cor dourada, seu cheiro de mel e folhas secas pelo ar?
                    Que sei eu dos mistérios da vida, dos segredos do Universo? Do dia e da noite? Da guerra e da paz, do amor e do ódio, do tudo e do nada? Dos encantos e desencantos de uma multidão desvairada, de uma humanidade condenada a andar sempre, mesmo que muitas vezes não saiba pra onde? Que sei eu dessas pessoas que passam por mim? Que sei eu dos seus sonhos, seus medos, seus amores, dores e alegrias? Algumas trazem estampada no rosto toda uma história, outras são impenetráveis e outras são indiferentes; isto pra falar em apenas algumas, porque cada pessoa é um universo insondável, complexo e profundo. Que sei eu do sol que aquece  e da chuva que molha? Que sei eu das estações do ano, tão fascinantes, tão distintas, cada uma com sua beleza, suas peculiaridades, sua própria personalidade? Que sei eu de tudo isso e que diferença faz eu saber ou não? A vida é uma interrogação que vamos respondendo enquanto vivemos.
                   Que sei eu da vida e dos seus mistérios?
                    Que sei eu?

terça-feira, 23 de abril de 2013

Saudade




            
                  Saudade de mim, saudade de ti, saudade de nós; saudade de um tempo perdido, esquecido nas dobras da vida, que de repente explode sem que eu saiba porque, vai tomando conta de mim e se espalhando por todo o meu ser. Isto tudo me atordoa.
                   Os pequenos detalhes surgem como por encanto, tão nítidos, tão reais e tão dilacerantes que chega doer. Quero resistir, não lembrar, não pensar, mas é impossível, já que não sou eu quem pensa, lembra, mas os pensamentos e lembranças que vêm ao meu encontro e me tornam prisioneira, me arrastam, me arrebatam e aí eu me entrego completamente, totalmente e mergulho fundo num sentimento que eu julgava não mais existir. Isto me assusta. O passado invadindo o meu presente.
                    Teu rosto, teus cabelos, tua boca, tua voz quente provocando arrepios, teu sorriso, teu jeito de andar, teus dedos longos segurando a carteira, enquanto eu pensava: quero estas mãos no meu corpo, teus olhos profundos perdidos nos meus, sabendo meu sim, enquanto minha boca respondia não. O jeito meio irritado, meio triste, sem entender o porquê daquele jogo idiota do não querendo sim ou do sim dizendo não.
                      Ah, como dói! Não queria percorrer esse caminho novamente, achei que já havia sofrido o suficiente quando te perdi, mas tinhas que surgir agora das profundezas do meu ser e bagunçar meu equilíbrio, nem tão firme assim, reavivando meu arrependimento.
                       Os beijos, os abraços, as carícias não trocadas são pedaços faltando em minha vida, fazendo meus lábios e meu corpo sedentos. Quero te encontrar ou não quero te encontrar? Não sei. Talvez o encanto se quebre e as amarras se soltem. Nada sei de ti. Nada sabes de mim. Talvez seja melhor assim. Não sei.

                      

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Amor Com Hora Marcada



               

                  Amor com hora marcada é o que me ofereces.
                  Amor em qualquer hora, qualquer dia, qualquer momento, qualquer lugar. Amor sempre. É o que eu quero.
                  Amor cronometrado é o que me trazes.
                  Amor em tempo integral é o que eu quero.
                  Amor dividido é o que me entregas.
                  Amor exclusivo é o que eu busco.
                  Amor quebrado é o que tens para me oferecer.
                  Amor inteiro é o que eu quero.
                  Amor aos pedaços, multifacetado é o que trazes pra mim.
                  Amor total é o que eu busco.
                  Me ofereces apenas um lado desta moeda, eu quero os dois e todos os outros que tiverem.
                  É muito pouco o que me ofereces.
                  Eu quero muito! Eu quero tudo!
  

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sonhos Desfeitos



             

                   _Meu Deus, tudo acabado. Nunca mais participo de concurso nenhum. Não adianta ficarem me dizendo: "vais participar, sim", "não deu desta vez, pode dar na próxima", "tens que continuar tentando". Não adianta. Não vou, não. Pra quê? Pra ficar sofrendo deste jeito? Não. Nunca mais.
                    Olha pela janela um pedacinho de céu, tão bonito, tão tranquilo, como se nada estivesse acontecendo e no entanto o seu sonho foi desfeito. Um soluço corta seus pensamentos, as lágrimas explodem de maneira incontrolável e se misturam com os pingos d'água do chuveiro. Deixa que a água escorra pelo seu corpo, pelo seu rosto; esta água lava seu corpo, mas não lava sua alma e esta tristeza do fracasso.
                   _É. Eu fracassei. Sou uma fracassada. Primeiro, o medo de participar e me desiludir e o desejo desesperado de participar; todos aqueles conhecidos chavões "quem não arrisca, não petisca", "é preciso tentar", "não se pode ficar acomodada", me vinham à cabeça. E eu tentei. E fracassei.
                    Pensando naquele cartão com o convite  para a entrega de prêmios lembra dos colegas dizendo: "vai, é claro que foste classificada".
                    _Mas eu tinha medo, muito medo de acreditar. Era um conflito, queria e não queria acreditar, fui me informar com a professora e ela disse que certamente o convite era para todos os participantes do concurso. Tive certeza. Havia fracassado.
                     Olha o chão molhado e pensa em seu sonho desfeito.
                     _Meu sonho está em pedaços, quebrado. Faz um gesto como se fosse juntar alguma coisa, mas desiste. Não adianta. Está tão quebrado, tão desfacelado que não tem mais jeito. Minha vida. É minha vida.
                     O que faço desta minha vida se fracassei naquilo que mais gosto de fazer? Ah! Que desespero! Que vazio! Tanto amor, tanto sentimento, tanta vida, tudo pra ser jogado no lixo. Minha crônica não presta, é uma droga, entre as cinquenta melhores não conseguiu ser a última.
                       Deixa que a água lave seu rosto molhado de lágrimas, seus olhos inchados e vermelhos, seu corpo trêmulo e cansado. As lágrimas secaram. O pranto estancou, mas aquele terrível gosto amargo de derrota e de fracasso ficou.
                       _Este fracasso vai me deixar marcas profundas, doendo, sangrando, me assaltando de vez em quando, me jogando no fundo do abismo e trazendo de volta aos pedaços e então terei que juntá-los, respirar fundo e começar de novo. Até quando, não sei. Talvez um dia eu me encontre de verdade. Tomara!
                   

quinta-feira, 11 de abril de 2013

As Estações do Ano




                 Bonito. Descontraído, sorriso largo, andar lento e gingado, cara de quem não leva nada muito a sério, vivendo o momento ao sabor dos ventos e das ondas, mas pode ser ardente e arrasador. VERÃO!           
                 Bonita. Olhar brejeiro, jeito faceiro, meio frívola, meio pueril, colorida, saltitante, vibrante, sorriso travesso, mas possui também a beleza exuberante e envolvente que subjuga e conquista. PRIMAVERA!
                  Bonito. Elegante, passos firmes e decididos. Olhar penetrante, gentil, educado, sério, formal e aconchegante ao mesmo tempo. Sorriso cativante. Mas, ah! Ele pode ser cruel e violento, por vezes. INVERNO!
                  Bonito. Charmoso, voz quente e sensual, olhar profundo e um doce e agreste perfume de mel e fruta madura. Às vezes se inclina mais para a descontração, outras vezes para a seriedade, mas é sempre envolvente, gostoso, perturbador e arrebatador. OUTONO!
                   Assim são as Estações do Ano. O que elas têm em comum? A beleza.  O que as diferenciam?  Suas características e variações. Caprichosas e temperamentais. Misteriosas e envolventes...Mas fascinantes e  maravilhosas. Uma bênção!

terça-feira, 2 de abril de 2013

Mar...Amor.




                  
                         Quando as ondas vierem te abraçar, lembra de mim e dos meus braços te envolvendo.
                        Quando a água salgada molhar o teu corpo, pensa em mim e nos nossos corpos suados de amor.
                        Quando a fúria das ondas  te arrebatar, lembra de mim e da volúpia do nosso amor.
                         Quando sentires o gosto do mar em tua boca, pensa em mim e nos nossos beijos molhados.
                            Quando as ondas vierem ondulantes em tua direção, pensa em mim e na sensualidade dos nossos corpos.
                            Quando as ondas docemente chegarem à praia e lamberem teu corpo numa doce carícia, lembra de mim e da nossa louca paixão.
                             Quando olhares o mar misterioso e envolvente, selvagem, lânguido e profundo, pensa em mim, pensa em nós e em quanto ele se parece com o nosso Amor. Assim é o Mar. Assim é o nosso Amor.

domingo, 24 de março de 2013

Rádio Felicidade



            

                       Aqui é a sua Rádio Felicidade, aquela que nunca deixa você na saudade.
                        Bom dia dona Joana, como vai? E o dom Juan? A dona Joana é a mulher do dom Juan...ah!ah!ah!...peguei você.
                         E você minha querida dona de casa, a "Rainha do Lar"? É sim, minha amiga, você é uma rainha, a rainha do seu lar. Bem, você minha amiga, preste atenção na pergunta de hoje. Você pode ser a sorteada e ganhar um lindo jogo de panelas pra fazer uma comidinha gostosa para o seu maridinho e os filhinhos. Ai, meu Deus, que comovente, eu fico até emocionado.
                          Bem, vamos à pergunta. Preste atenção. Qual é o produto de limpeza que limpa até o pensamento? Hein? Hein? Você sabe, não é? Claro que sabe. Você usa. Eu sei que usa; não que você precise limpar seus pensamentos. Claro que não.
                           Rádio Felicidade, a amizade que você precisava.
                           Você aí, minha amiga, liga pra Felicidade. Ela está com você dia e noite. Você sabia? 
                            Aqui a melhor programação da cidade(só tem esta rádio aqui). Mas, falando sério, aqui você tem música, esporte, política e informação. Qué mais? Qué mais?
                            Você quer ouvir a sua música preferida? Liga pra Felicidade.
                            Quer saber como se tira mancha de roupa? Aaaaqueeela mancha que não sai por nada? Felicidade resolve seu problema. Aqui temos tudo que o povão quer e precisa saber.
                            Você quer mandar aquele recado maneiro pra aquele alguém especial que você ama, aquela pessoa amada que vive no seu pensamento, no seu coração, mas que você vive sofrendo, chorando, porque ela não percebeu ainda esse amor maravilhoso que você tem pra dar? Se esse for o caso, Felicidade cuida dele pra você.
                              Felicidade, a Rádio que quer ver todo mundo feliz. Ahaaarra! Gostaram do trocadilho? Eu também. 
                          

domingo, 17 de março de 2013

Homens ou Ratos?




                          ...E era uma terra de ratos. Ratos que se devoravam, se odiavam. Ratos que sugavam seu próprio sangue nas veias dilaceradas de seus irmãos. Ratos que destruiam seus irmãos, ratos que destruiam os estranhos, os estrangeiros.
                          Animais mesquinhos que só sabiam odiar...matar. Ratos que não sabiam amar, que viviam na ilusão de lutar pra vencer. Vencer o quê, a quem? A si próprios. Devoravam-se e então quem mais devorava, quem mais odiava e quem mais agredia, estampava um sorriso amargo e cruel no rosto e dizia que tinha vencido.
                          Pobres animais estúpidos, desprezavam a harmonia da convivência, a felicidade de viverem em paz consigo e com os irmãos pra viverem no ódio. Ratos sem alma, ratos covardes que sem coragem de enfrentarem o verdadeiro inimigo - a ganância, a inveja e a mesquinhez dos seus corações - se atiravam uns contra os outros na cegueira imbecil e idiota do egoísmo e achavam, ou queriam achar, que quanto mais bens materiais, elogios e poder - falsos elogios e falso poder, por sinal; quem é falso só pode receber coisas falsas - recebessem, mais felizes seriam e então seriam vitoriosos. E assim essa estranha nação ruía, se desfacelava e seus pobres habitantes andavam às tontas, sem nada em que se apoiarem. Seus irmãos...Irmãos?! Estranha palavra que nada significava para eles. Pois é, não podiam contar com seus irmãos, com seus amigos, porque já haviam destruído tudo. Não havia mais sentimento, emoção, amor. Só ódio e uma grande amargura.
                  Andavam pelas ruas como se fossem fantasmas, seus corpos sem alma vagavam sem rumo pelas ruelas sem fim daquele mundo sem saída. Seus rostos eram tristes, suas expressões amargas, seus olhos sem brilho, apagados, seus passos eram pesados como se carregassem o mundo em suas costas.
                   O sorriso era uma careta grotesca e as lágrimas estavam congeladas. Tudo estava perdido. Era tarde demais. Queriam mudar, mas já não era possível. Tanto amor, tanta beleza, eles transformaram em ódio e sujeira, maldade e egoísmo. Nada mais restava. Eles se destruíram, se acabaram, se exterminaram...E então apareceu um gato...

domingo, 10 de março de 2013

Sentido Sem Sentido




                  
                   De repente, no meio de uma frase tudo acabou. Acabou? Mas começou? Tanta coisa pra falar, pra ouvir, tanto pra descobrir, pra ser descoberto. Acabou. Assim como não começou. Tantas emoções pra viver, tanto pra se conhecer deste iceberg que vislumbramos apenas a ponta. Tantas loucuras de amor por fazer, tanta paixão pra explodir. Tanto pra ser e não foi.
                   Faz sentido isso? Acho que não, mas nada faz sentido. Faz sentido rir e chorar, amar e odiar? Faz sentido viver apenas pra trabalhar, quando há tanta beleza pra explorar ? Faz sentido viver no ócio, quando há tanto por fazer? Faz sentido chorar por quem não ama, quando há tanto amor circulando no ar? Faz sentido desistir de quem ama por medo de não dar certo? Acabou. Por quê? Porque um pensou que tinha começado e outro não sabia que tinha começado. Porque um tinha medo de sofrer e o outro já estava sofrendo por antecipação. Faz sentido o que estou escrevendo? Nenhum, acho. Faz sentido esta crônica? Só o sentido de questionar o sentido. Tudo tem sentido, porque nada faz sentido. Nada faz sentido, porque tudo tem sentido.

domingo, 3 de março de 2013

Cidades...Amigas



             
                  Clara está sentada à beira de um lago e enquanto observa os cisnes nadando fica pensando nas recentes viagens que fez em visita a duas grandes amigas em cidades diferentes; uma litorânea, outra serrana. As duas de porte médio e muito bonitas.
                   A serrana é mais próxima e ela costuma ir com frequência, não só a passeio, mas também a serviço. Já à litorânea sempre foi a passeio. Fica pensando:
                     - Engraçado, a serrana embora uma cidade "quase" grande, parece mais uma extensão da minha cidadezinha querida. Tenho mais desenvoltura para andar por suas ruas, seus bairros. A litorânea mexe comigo de uma maneira diferente. Quando chego dá uma ansiedade, vontade de sair andando, de ir embora.
                      Ri triste olhando o balé dos cisnes e continua refletindo:
                      - Por que será? Sei lá...tantas coisas vividas, sentidas, tantas sensações, tantas recordações, boas algumas, doce...doce, outras nem tanto e outras bem amargas. Deve ser por isso.
                     Quando chega sente o impacto como se jogassem  uma pedrinha em suas águas interiores. Só de pensar fica inquieta, levanta e começa andar. A cidade serrana não causa todo esse rebuliço em sua alma. Sente-se adaptada, integrada imediatamente. Volta a sentar, agora em um banco à sombra.
                     A cidade litorânea traz à tona tantas histórias vividas, sofridas, sentidas. Aí dá uma vontade de fugir(como se adiantasse) e esta coisa meio doida faz uma confusão de sentimentos. Ela atrai e retrai...depois conquista. E quando chega a hora de partir e enquanto o ônibus vai passando pelas ruas, pelas casas, pelos campos, dá uma dor danada na alma, um aperto no coração, uma vontade de ficar, uma saudade antecipada. Vontade de voltar antes de ir. É tudo muito confuso e extenuante.
                     A tarde cai, o sol refletido no lago, com os cisnes nadando, parece uma tela pintada por Deus. Parece?! Fica olhando e pensa:
                     - Estou em casa. Minha cidade é minha casa. Visitei minhas amigas, o que é sempre um bálsamo para a vida. Mas acabei pensando nas cidades, tão bonitas e complexas. A serrana com suas ondulações e as serras sensuais  se desdobrando curvilíneas até não se sabe onde. A litorânea com sua planura a perder de vista e o mar...maravilhoso e envolvente mar.
                     Levanta, volta lentamente pra casa, sentindo o aroma das flores, o vento no rosto, a magia do momento. Está mais leve, mais livre. Sorri.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Miragem




                - De onde és?
                - Miragem.
                Pronto. Passo a te incorporar, tudo que sou, que faço, tu és, tu fazes.
                É o que acontece sempre que viajo e as pessoas perguntam de onde sou.
                Parece que trago concentrado dentro de mim todo o teu amálgama. As personalidades mais opostas, os comportamentos mais diversos, os gostos mais extravagantes estão concentrados em mim.
                Represento-te minha cidade. Tudo que faço, falo, gosto, sou, tu fazes, falas, gostas, és.
                Se amo, tu amas; se não amo, não amas; se odeio, tu odeias; se não odeio, não odeias; se choro, tu choras; se não choro, não choras; se rio, tu ris; se não rio, não ris; se beijo, tu beijas; se não beijo, não beijas; se abraço, tu abraças; se não abraço, não abraças; se sou carinhosa, tu és carinhosa; se não sou carinhosa, tu não és carinhosa; se sou educada e simpática, tu és educada e simpática; se não sou educada e simpática, não és educada e simpática.
               Eu me sinto sufocada, oprimida sob o peso de uma responsabilidade que não é  só minha, afinal. És pequena, mas pra eu te carregar sozinha, és enorme. De repente, não sou mais a Marília, sou Miragem, chegam até a usar teu nome em lugar do meu ao se dirigirem a mim. E ficam querendo comparar tudo: onde é melhor? Aqui ou lá? Em Miragem se faz pães tão gostosos quanto os daqui? E café? E a água lá é tão boa quanto a nossa? E eu fico indefesa sob esse bombardeio de perguntas inconvenientes. Se respondo que tu és a melhor, falo a verdade, mas vão achar-me pretensiosa; se respondo que não, minto, além de te trair. Situação embaraçosa. Tenho sempre que achar um meio termo.
                Oh, Terrinha! Não exiges tanto desta tua filha.
                Não podem me olhar que lembram de ti. Falam que vão te visitar, quase esquecem de mim, pra só falarem de ti. Fico irritada, às vezes, sinto vontade de gritar.
                - Não sou Miragem...Sou Marília. Apenas Marília.
                Oh, Miragem, Miragem! Nosso relacionamento é um pouco passional. Te amo apaixonadamente, mas, às vezes, brigamos. Te sinto pequena demais, para o meu sonho, grande demais, talvez.
                Não me ofereces as oportunidades que quero e eu, quem sabe, não faço por ti tudo que mereces. Mas, mesmo assim, as brigas são passageiras. És tão encantadora! Teus montes, vales, lagos, teus campos, teu céu, teus pássaros, tua paz conquistam, atraem, encantam. E eu te amo muito.
             
              

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Que Sentimento é Este?




                    

                Que sentimento é este que toma conta de mim e me torna pequena? Faz minha alma em pedaços e se espalha por todos os cantos?
                Não cabe dentro de mim, não cabe em meu quarto, em minha casa, em minha cidade e até o Universo parece pequeno para abrigá-lo.
                 Que sentimento é este tão avassalador que me bota maluca e faz bagunça com minha cabeça?
                 Me deixa louca, desvairada, me faz rir e chorar, ficar alegre e triste sem saber porque. Também não interessa. De que adianta saber porque se vou continuar prisioneira dele?
                 Que sentimento é este que brota no íntimo do meu ser e joga comigo como se eu fosse um brinquedo, me arrasta, me envolve, me maltrata e acaricia, me faz derrotada e vitoriosa, me agiganta e apequena?
                 Que sentimento é este que me subjuga e me tira o poder de escolha, me deixa sem saber se quero ou não quero, se gosto ou não gosto?
                  Que sentimento é este que me faz alma penada em corpo vibrante, me faz corpo em delírio em mente lúcida?
                   Que sentimento é este que faz meu coração acelerar e me embaralha as idéias, me deixa febril sem estar doente e sonâmbula sem estar dormindo?
                   Que sentimento é este?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Vazio





            
                Sabe amor, houve um tempo em que quando te via, meu coração acelerava; pra falar a verdade ele te adivinhava antes mesmo de eu te notar, meu sangue entrava em ebulição, minha alma se expandia de felicidade, meu corpo se arrepiava de prazer antecipado, todo meu ser te pedia, te desejava e eu me deixava levar por este redemoinho de emoções.
                Hoje amor, quando te vejo meu coração fica apertadinho, meu sangue enregela, minha alma se encolhe, meu corpo fica estático e todo meu ser se nega, se retrai, apático e indiferente e aí resta somente o vazio...e como dói o vazio!
 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Domingo




            Não há nada mais deprimente do que fazer aos domingos o que deve ser feito aos domingos.
             Um silêncio desolador pelas ruas da cidade, o aglomero de gente em determinados lugares, fileira de carros parados nas avenidas com seus ocupantes observando-se uns aos outros, algum evento monopolizando atenções, muitas vezes sem grande interesse, mas afinal é domingo e não tem nada mesmo pra se fazer.
               As crianças nas praças brincando, gritando, os namorados de mãos dadas andando sem destino ou pelos parques, aos abraços e beijos, os casais passeando pelas ruas meio sem saberem o que fazer, mas é domingo e ficar em casa fazendo o quê? Parece que ninguém sabe.
                 O silêncio das casas com suas portas e janelas fechadas, o comércio fechado, aquela tristeza pelo ar. Tudo tão monótono, tão sem graça.
                  A roupa domingueira, frase que combina exatamente com o verdadeiro sentido que encerra. Pobre, sem imaginação, convencional, sem criatividade.
                  O pijama, os chinelos, a TV, os programas vazios e de péssimo gosto. Tudo isso é domingo.
                  E o bom livro, a conversa gostosa, o aconchego da casa, nada dissso faz parte do domingo? Não sei. É tudo tão vazio. Tão domingo. Tudo é assim porque é domingo e se é domingo tem que ser assim. Não está escrito em lugar algum, mas é assim e pronto. É domingo.
                   Uma agitação latente onde está tudo quieto, nas ruas, nas casas, no ar, nas pessoas; um silêncio falso. Uma quietude infiltrada na agitação dos grupos, dos risos, das brincadeiras; alegrias e movimentos falsos. É domingo.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Rio Grande




                  Tu, Rio Grande dos heróis ilustres
                  Tu, Rio Grande dos heróis anônimos.
                  Dos homens simples que, de repente,
                  se transformaram em soldados
                  trocando arados e enxadas por armas e lanças.
                  Tu, Rio Grande das mulheres firmes e decididas
                  que souberam assumir com coragem a luta em casa,
                  enquanto os homens lutavam nos campos de batalha.
                  Tu, Rio Grande, que há cento e cinquenta anos
                  te rebelaste contra a tirania e a opressão
                  e ainda hoje pelos teus campos
                  ouve-se o eco do teu grito de liberdade.
                  Tu, Rio Grande, nos mostraste que
                  nem sempre ausência de guerra é paz.
                  Teus heróis, Rio Grande, regaram com sangue
                  Esta terra generosa que recebeu em suas entranhas
                  os corpos sem vida dos que lutaram por ti
                  Tu, Rio Grande, nos deixaste por herança
                  o desejo de liberdade.
                  Hoje, Rio Grande, precisamos continuar lutando
                  não com armas e lanças,
                  mas com idéias e atos.
                  Se para alguns basta ser razoável
                  Tu, Rio Grande, pra ser aceito tens que ser o melhor.
                  É que tu, Rio Grande, não deixa que te
                  coloquem amarras.
                  Teu povo é forte e aguerrido
                  pioneiro e apaixonado.
                  Mas, principalmente, livre.
                  Tu, Rio Grande, nasceste pra ser livre.
                

                                  
                 (poesia feita em comemoração aos cento e cinquenta anos da
 Revolução Farroupilha).