sábado, 12 de outubro de 2013

Um Rosto no Espelho






              Olho  no espelho e vejo um rosto, um rosto que me olha de um jeito meio irônico, meio debochado, a boca mostra num ritus esquisito a desconfiança  e o desalento de quem não acredita em ninguém, nem mesmo em si. O nariz normal, talvez um pouco grande para o rosto, cumpre indiferente o seu papel. O cabelo que emoldura esta emoção, porque o rosto é pura emoção, puro sentimento, bem, o cabelo é leve, suave e rebelde. Analiso cada traço, cada gesto e por fim quando encontro os olhos percebo porque os deixei por último; temia o confronto. Eles são implacáveis, profundos, cruéis comigo, desvendam minha alma, fazem mil perguntas e querem respostas, respostas verdadeiras. Gritam pra mim naquele silêncio terrível que não sou melhor que o resto da humanidade, talvez, pelo contrário, seja pior, já que tenho a pretensão de acreditar em certos valores. Mas será que acredito mesmo ou QUERO acreditar? Me chamam de egoísta e covarde e quando nego, me perguntam cruéis e sarcásticos se eu seria capaz de dar um objeto que eu gosto, aquela roupa preferida, o disco, o livro? Seria? Vamos, responde!
                         Tento argumentar que se fosse realmente importante seria. Mentira, acusam. Hipócrita. Quem vai determinar a importância? Tu? Não nos faça rir. E o lampejo de deboche que lançam é terrível. E o amor das pessoas que amas serias capaz de partilhar com os outros? Sim, respondo. É mesmo?! E o amor do homem que amas dividirias com outra? Nunca, repondo e então eles gargalham. Viste? És egoísta sim. És igual a todos os outros. Egoísta! Egoísta! Tento argumentar que este tipo de amor é diferente. Ninguém normal aceitaria dividí-lo com outra ou outro, dependendo do caso. Por que eu teria que ser a mártir, aceitando tudo, isso não seria virtude, seria degradação humana. Por quê, perguntam, achas que podes ser a dona de uma pessoa, controlá-la, sufocá-la, tê-la só pra si?  Egoísta! Egoísta! A maneira como brilharam me sacudiu. Percebo horrorizada que meus olhos querem me enlouquecer. Penso com a alma e ao mesmo tempo vejo-a estampada em minha frente, através dos meus olhos.
                       Quero fugir deles, mas o magnetismo que desprendem  é tão forte que não consigo. Paro. Resolvo enfrentá-los. Olho-os no fundo, bem no fundo, ficamos assim por intermináveis minutos; descubro que estavam me testando e o resultado foi positivo. Fui sincera. Ninguém é melhor que ninguém, mas alguns se deixam dominar com mais facilidade pelas fraquezas humanas e pelos vícios; outros conseguem dominar mais essas fraquezas e vícios. Minhas dúvidas em relação aos meus sentimentos e ao egoísmo causam com certa frequência esse tipo de confronto, doloroso, mas enriquecedor.
                 Afinal, meus olhos não queriam me destruir, mas me questionar, me sacudir, avaliar...ou reavaliar a maneira dura, exigente e às vezes crítica demais, quase cruel e intransigente como cobro de mim e, consequentemente dos outros. Através dos meus olhos cheguei até minha alma e neste encontro nos fundimos, nos integramos e desta viagem interior voltei revigorada e em Paz. Em minha alma encontrei Deus.

domingo, 6 de outubro de 2013

É Primavera!



     



                         A primavera coloca no ar um perfume de flores, de amores, o coração cria asas e quer voar, a alma fica inebriada e louca e desvairada só quer liberdade, se expandir, ir além dos limites, a mente fica assim meio que baratinada e os pensamentos se atropelam. É primavera.
              O corpo em ebulição e o sangue em efervescência parecem um vulcão prestes a entrar em erupção. É primavera.
                 Flores desabrocham, desejos explodem, o sol aquece, o frio se insinua, vento sopra, temporais acontecem e chuva chega lavando tudo. É primavera. Até a Natureza fica meio maluca.
                  Explosão de verde, profusão de cores, sinfonia de pássaros, bailado de borboletas. É primavera. Explosão de vida.