A primeira vez que vi o
mar não fiquei impressionada nem fascinada.
Achei-o maravilhoso, é verdade, na sua
imensidão; fiquei observando suas águas agitadas e pensando: de quantas
tragédias, aventuras, vitórias e derrotas tu foste testemunha?
O céu de chumbo se refletia em suas águas e essa fusão mar-céu-mar me pareceu um gigantesco monstro cinzento
barrando meu caminho. Ele estava ali, na minha frente, como a dizer: Pára!
Gostei e não gostei dele. Sentia-me atraída e ao mesmo tempo reticente,
impotente diante dele.
Éramos um bando de colegiais em excursão e embora o mar estivesse
agitado não abrimos mão de fazermos uma pequena viagem a uma ilha próxima.
Durante a viagem ele se divertiu atirando sobre nós suas ondas impetuosas e arrogantes.
Ao retornarmos, no fim da tarde,
a nossa cidade, passamos pela
praia. Estava deserta. Estava um pouco frio e a beleza do momento era
inesquecível. As ondas vinham furiosas em direção à praia como se quisessem nos
alcançar e nos arrastar. Desatamos a correr pela praia juntando conchas. Éramos
indistintos pontinhos escuros agitando-se na areia branca. Quando voltamos
para o ônibus estávamos salgados e com as mãos cheias de conchas. Ele ficou lá
indiferente e soberbo.
Quando bem mais tarde voltei a vê-lo, foi como se chegasse a uma festa
em que o anfitrião não me tivesse notado. A tarde estava ensolarada, a praia
fervilhando de gente e ele estava ali fazendo parte daquilo tudo, sendo
envolvido e envolvendo(mais envolvendo).
O primeiro contato com suas águas
foi envolvente. Suas ondas vinham suaves rebentar na praia, mas eu sabia que
por trás desses abraços doces e ternos,
em suas profundezas escondia toda a fúria e força de que é capaz.
O céu de um azul puro mirava-se no
espelho de suas águas tornando-as azuis também e esse encontro de céu e mar
dava uma gostosa sensação de liberdade, vida, emoção. E eu gostei dele.
Mas o verdadeiro “encontro”
aconteceu uns dias mais tarde, numa noite em que fomos(eu e uns amigos) ver,
pela primeira vez, a Festa de Iemanjá, mas o que realmente vi foi o mar.
A praia estava movimentadíssima,
gente andando, falando, participando da festa, ou simplesmente assistindo, como
era o nosso caso. Mas emanava do mar um silêncio gostoso, uma tranquilidade,
uma sensação de independência e liberdade. De repente me pareceu que só
estávamos eu e ele, ali, naquela noite quente, em que as estrelas tomavam conta
do céu. Ele estava majestoso, único, importante. Imperturbável. Estava só, sem
se envolver nem envolver ninguém. Apenas ele
mesmo. Solitário no meio de tanta gente. Eu também estava acompanhada, com
muita gente a minha volta, mas solitária. Eu mesma, com meus pensamentos e
sentimentos. Não estava triste não, pelo contrário, estava feliz, mas vivendo
intensamente aquele momento de intimidade. Só meu. Meu, das estrelas, da noite
e...do mar.
Será que se eu falasse alguém
entenderia?
Aquele mar solitário,
imponente, me fascinava, mas eu sabia que ele podia ser terrivelmente perigoso
quando enfurecido.
Mas ele estava ali, tão ele
mesmo, tão MAR. E eu o amei.
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