sábado, 7 de setembro de 2013

Um Filho





              Nome: Mirna Vernetti Siqueira; estado civil: solteira; idade: 28 anos; profissão: gerente  de vendas de uma das lojas da rede Cáritas. Documentos todos em ordem: Cédula de Identidade, Título de Eleitor, CPF, tudo. E ainda mais: talões de cheque, cartões de crédito, tudo provando e comprovando que ela é ela mesma.
              Eles só não mostram a Mirna interior, não dizem, por exemplo, que ela detesta livros, música e festas, mas gosta de cinema, teatro e televisão.
        Não dizem também que não acredita em amor, acha o casamento uma coisa horrível e detesta sexo. Mas, apesar disso, deseja ardentemente um filho. Um filho pra chamar de seu. Assim como certos homens precisam de um filho pra ter certeza de sua masculinidade, ela precisa de um filho pra se sentir realizada. Por isso está aqui, nesta sala de parto, com o ventre túmido, atravessado por dores lancinantes. Mas ela queria um filho, um filho dela, só dela.
          Há mulheres que nascem pra serem esposas, profissionais, mães, amantes e há aquelas que nascem pra serem MULHERES, assumindo todas as suas faces. Mulher de verdade, autêntica. Mulher em sua totalidade, no verdadeiro e sublime sentido da palavra. MULHER. GENTE. Mas ela nasceu pra ser mãe. Mãe e profissional. Apenas isso.
       Teve muitos namorados, até um noivo, quando faltavam poucos dias para marcarem a data do casamento terminou tudo. Não sentia nada com nenhum deles. Tinha nojo até. Ficava admirada quando as amigas contavam excitadas que sentiam isso e aquilo com os carinhos dos namorados. Pra ela esses carinhos eram insuportáveis, verdadeira tortura, sentia repugnância  daqueles beijos molhados, daquele corpo colado ao seu, vibrando de desejo, daqueles braços envolvendo-a, daquelas mãos passeando pelo seu corpo. Sentia asco. Achava ridículo.
        Depois do noivo ainda teve outros namorados, outros casos, mas desistiu. Não quis saber de ninguém mais. Mas queria um filho. Poderia adotar, mas queria que brotasse de suas entranhas, sentí-lo crescendo dentro dela.
        Agora chegou a hora dele nascer. Sinceramente o ato sexual não compensa esta dor terrível, mas o filho, ah! o filho compensa até sofrimento maior.
                     Quando decidiu que teria o seu filho, fez uma longa viagem. Hospedou-se num hotel e começou observar os hóspedes até encontrar alguém que servisse. Depois de colher todas as informações necessárias escolheu um homem bonito, ativo, inteligente, saudável, sem nada que desabonasse sua conduta.
                O resto foi fácil, não foi difícil seduzí-lo. O difícil foi ir para a cama com ele. Era ardente, carinhoso e apaixonado, mas ela conseguiu abreviar aquele ato ao mínimo necessário. Muitas mulheres com certeza adorariam estar com ele, mas ela não aguentava mais, estava enjoada e não via a hora daquilo tudo terminar.  
                        Deixou o hotel na mesma noite e na semana seguinte já estava trabalhando.
                      Está cansada, a dor lhe tira o fôlego, mas só pensa no filho que está nascendo. O seu filho.
                       O médico segura o bebê que chora com força e diz que é um lindo menino, forte e saudável.
                        Então ela sorri olhando o seu filho, o seu filho tão querido, tão desejado, aquele filho que é só dela, só dela e de ninguém mais. O seu filho.
               

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