sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sonhos Desfeitos



             

                   _Meu Deus, tudo acabado. Nunca mais participo de concurso nenhum. Não adianta ficarem me dizendo: "vais participar, sim", "não deu desta vez, pode dar na próxima", "tens que continuar tentando". Não adianta. Não vou, não. Pra quê? Pra ficar sofrendo deste jeito? Não. Nunca mais.
                    Olha pela janela um pedacinho de céu, tão bonito, tão tranquilo, como se nada estivesse acontecendo e no entanto o seu sonho foi desfeito. Um soluço corta seus pensamentos, as lágrimas explodem de maneira incontrolável e se misturam com os pingos d'água do chuveiro. Deixa que a água escorra pelo seu corpo, pelo seu rosto; esta água lava seu corpo, mas não lava sua alma e esta tristeza do fracasso.
                   _É. Eu fracassei. Sou uma fracassada. Primeiro, o medo de participar e me desiludir e o desejo desesperado de participar; todos aqueles conhecidos chavões "quem não arrisca, não petisca", "é preciso tentar", "não se pode ficar acomodada", me vinham à cabeça. E eu tentei. E fracassei.
                    Pensando naquele cartão com o convite  para a entrega de prêmios lembra dos colegas dizendo: "vai, é claro que foste classificada".
                    _Mas eu tinha medo, muito medo de acreditar. Era um conflito, queria e não queria acreditar, fui me informar com a professora e ela disse que certamente o convite era para todos os participantes do concurso. Tive certeza. Havia fracassado.
                     Olha o chão molhado e pensa em seu sonho desfeito.
                     _Meu sonho está em pedaços, quebrado. Faz um gesto como se fosse juntar alguma coisa, mas desiste. Não adianta. Está tão quebrado, tão desfacelado que não tem mais jeito. Minha vida. É minha vida.
                     O que faço desta minha vida se fracassei naquilo que mais gosto de fazer? Ah! Que desespero! Que vazio! Tanto amor, tanto sentimento, tanta vida, tudo pra ser jogado no lixo. Minha crônica não presta, é uma droga, entre as cinquenta melhores não conseguiu ser a última.
                       Deixa que a água lave seu rosto molhado de lágrimas, seus olhos inchados e vermelhos, seu corpo trêmulo e cansado. As lágrimas secaram. O pranto estancou, mas aquele terrível gosto amargo de derrota e de fracasso ficou.
                       _Este fracasso vai me deixar marcas profundas, doendo, sangrando, me assaltando de vez em quando, me jogando no fundo do abismo e trazendo de volta aos pedaços e então terei que juntá-los, respirar fundo e começar de novo. Até quando, não sei. Talvez um dia eu me encontre de verdade. Tomara!
                   

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