quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A Invasão




                           É terrível. Começamos a nos sentir "diferentes". Parece que estamos num mundo irreal, tudo nos parece envolto numa névoa; as cores, as coisas, o som, os animais e até as pessoas nos parecem "esquisitas" e temos a impressão que de repente algum gaiato vai puxar o tapete tirando assim o nosso chão e nos jogando num abismo sem fim.
                          Quando falam conosco temos a sensação que a voz teve que atravessar  um longo túnel pra chegar até nós e quando falamos parece que a nossa voz veio lá das profundezas dum abismo qualquer e por isso chegou assim fraca e sem cor. Nossa cabeça está oca, vazia.
                           Sabemos o que está acontecendo, o que estamos fazendo, falando, mas tudo parece pertencer a um mundo irreal, imaginário, de sonho ou pesadelo; queremos emergir desse sufoco, dessa agonia, mas não adianta, o melhor mesmo é resignar-se e deixar que se cumpra esse período inevitável.
                           Parecemos uma cidadela em ruínas, qualquer coisa nos atinge, nos fere, machuca, ficamos hipersensíveis. Coisas que muitas vezes em nosso estado "normal"quando nossas defesas estão ativas e em pleno funcionamento suportamos muito bem, agora nos deixam magoados, arrasados.
                           Nossos inimigos atacam sem piedade, com toda a violência de que são capazes e assim somos invadidos pela dor de cabeça e dor de garganta, pela febre e dor no corpo, pela coriza e tosse, por um mal estar geral que nos toma conta do corpo e da alma.
                            Nosso pensamento se torna obssessivo: cama, cama, cama. Só pensamos em deitar, só queremos nos atirar em uma cama e ficar quietos, de olhos fechados, sem precisar falar, sem precisar ouvir, sem precisar fazer nada, só ficar imóveis, esquecer tudo e torcer pra que isso passe  logo.
                             No primeiro dia sentimos os sintomas e já ficamos apreensivos. Ela vai chegar...Ela chegou.
                             À noite, enquanto dormimos, nossos invasores, aproveitando-se do nosso descuido tomam conta do nosso corpo e por que não? Da nossa alma também, já que ela, solidária com o corpo que habita sente com ele todas as mazelas que o atacam.
                              Durante o sono. Sono? Não sabemos se estamos dormindo ou acordados, somos atirados em estranhos labirintos onde se misturam realidade e sonhos. Pensamos que estamos acordados, mas quando acordamos descobrimos que estávamos dormindo. Acordamos cansados e alquebrados.
                               No segundo dia já estamos completamente entregues a ela e tentar resistir é perda de tempo e de energia. Estamos desesperadamente desanimados ou desanimadamente desesperados. Deprimidos e cansados, irritados e tristes, com vontade de chorar sem saber porque. Vontade louca de se livrar daquela coisa que sem a menor cerimônia se apoderou de nós e parece que está achando ótimo, muito bem instalada e sem pressa de ir embora.
                               No terceiro dia começa nossa reação, nos sentimos mais animados e menos deprimidos.
                               Começamos a ter esperanças em nossa libertação. Nossas defesas entram em atividade e começam a lutar energicamente pra nos livrar dos intrusos conseguindo vitórias compensadoras. Alguns são mais relutantes, mais persistentes, como é o caso da tosse, da febre, às vezes, mas em geral o resultado é satisfatório e nossos inimigos vão sendo expulsos um a um e cada dia que passa nos sentimos melhor.
                               Pronto. Ela se foi, mas ainda nos deixou a ressaca, o cansaço pela luta que foi travada, tendo como campo de batalha o nosso corpo, é natural que sintamos o reflexo dessa luta.
                               Saimos vencedores, apesar de algumas avarias que em poucos dias serão reparadas e então, livres, estaremos prontos para viver.
                                De quem estou falando? Ora, de quem haveria de ser? Dela, da gripe. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários