segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reflexões





                 Tem uma porção de coisas fervilhando em sua cabeça, pensamentos, opiniões, sentimentos pra compartilhar, mas quem se interessa? Quem tem tempo de ouvir?  Todos tão preocupados consigo mesmos.
                  Lê um trecho do livro que tem nas mãos. A personagem faz um comentário chocante, mas real. Ela diz: "ninguém se preocupa contigo, a não ser pra falar mal". É uma afirmação amarga, mas que tem muito de verdade. Ela que o diga.
                  Sempre foi uma pessoa correta, mas humana, muito ligada aos pais, irmãos e parentes, sempre ouvindo, ajudando, muitas vezes esquecendo de si para ajudar os outros; faz bem, é parte integrante de sua personalidade ser solidária. Como jornalista sempre procurou usar os mesmos princípios morais e éticos, informando com isenção, imparcialidade e justiça. Mas isso não interessava muito, não causava nenhuma sensação, não servia como exemplo a ser seguido, diziam que era "boazinha", ou de maneira um pouco irônica que era "muito certinha", que vivia segundo ideais fora de moda, que devia me ocupar mais comigo, aproveitar ao máximo a minha beleza, juventude e inteligência pra "subir na vida", obter sucesso, sem me preocupar tanto em não ferir as pessoas, ninguém liga pra isso. O que causava sensação era sua beleza exterior, essa sim interessava. Gosta de ser bonita, não tem nada contra a beleza física, só que o ser humano é um todo e como tal deve ser visto. Só isso, mais nada.
                Pois bastou um dia mudar da casa dos pais para o mundo desabar, isso que mudou para um apartamento pertinho, na mesma quadra, porque precisava  de mais espaço e além disso na casa dos pais não tinha muita tranquilidade pra trabalhar por causa dos seus irmãos pequenos que queriam sempre que brincasse com eles.
                Pronto. Aí lembraram dela, os vizinhos e alguns parentes, os conhecidos e até os desconhecidos se tornaram tão preocupados com sua vida, especularam, falaram, inventaram, fofocaram, era um ti--ti-ti só; que estava botando as "manguinhas de fora", "as mais certinhas às vezes são as piores", "algum motivo ela tem pra querer morar sozinha". Tudo isso comentavam. Foi o assunto preferido durante muito tempo.
                 Os pais, irmãos e amigos ficaram indignados, mas ela tinha pena daquela gente que não tinha mais nada interessante pra fazer do que ficar  se preocupando com a vida dos outros.
                  Agora passou, se acostumaram e ela aprendeu mais uma lição. Quando a gente tá mal, sozinha, sofrendo, precisando de ajuda, de amigos, essas pessoas estão cada uma vivendo a sua vida sem se importarem, sem tomarem conhecimento de nada, mas quando vamos viver nossa vida, ah, aí essas mesmas pessoas se mobilizam e se interessam e se importam. Então, a única coisa com que devemos nos preocupar é com Deus e com a nossa consciência e também com as pessoas que amamos e que nos amam, para não magoá-las.
                   Sente-se feliz assim. Puxa! Quanta coisa pensei só por causa da frase de uma personagem. Recomeça a ler. Quer terminar  o livro antes de fazer uma visita aos pais e irmãos. Afinal, é tão gostoso estar com eles.

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