terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Almir Zaky



                    Eu andava na rua, uma tarde, tinha ido ao Banco e retornava ao escritório onde trabalho, quando uma senhora que vinha em sentido contrário ao meu, perguntou ainda de longe:
                      - Será que o Almir Zaky pode me atender agora? A princípio pensei que não fosse comigo. Afinal, o que eu tenho a ver com Almir Zaky? Continuei andando como se nada tivesse acontecido.
                     Quando chegou mais perto ela fez a mesma pergunta:
                      - Será que ele pode me atender agora?
                      - Ele? Ele quem?
                      - O Almir Zaky.
                      - Almir Zaky? Quem é?
                      - Ué! Não sabe?!  Ele vem todas as quartas.
                      - Ah, não sabia.
                      - Engraçado, mora aqui na cidade e não sabe. Ele  faz a corrente do pensamento positivo. Cura as pessoas só com palavras e a força do pensamento, sem precisar ir a médicos e tomar remédios. Ele sabe tudo, adivinha tudo sem a gente dizer nada.
                       - Curou quem?
                       - Não sei, ele disse que já curou muita gente.
                       - Ah! Ele disse. Eu acredito realmente.
                       - Disse. E não cobra nada. A gente só dá uma colaboração em troca de umas lembrancinhas abençoadas, lencinhos, livros, fotos, perfumes, tudo com o nome dele ali escrito.
                       - Abençoadas por quem?
                       - Por ele, ora. Ele abençoa dizendo uma oração sobre as lembrancinhas e quem usar fica livre dos espíritos maus.
                       - Espíritos maus? Quem são?
                       - Ora, mas que pergunta! Devia ir a uma das reuniões dele. Os espíritos maus são os responsáveis por todas as coisas ruins que acontecem, a plantação que não dá, ou até uma dor de cabeça pode ser causada por "eles". Não acredita?
                       - Claro que acredito. A senhora tem razão. É preciso ter muita fé em Deus pra nos livrar de todos os males.  
                        - É. Ele diz que temos que participar da corrente dele, porque muitos falam, mas ele sabe o verdadeiro sentido da Palavra de Deus. Ele é o escolhido pra falar pra toda gente o que Deus quer dizer.
                        - Como é que ele sabe que é o escolhido?
                        - Sei lá, coisa dele lá, acho que ele falou que foi uma revelação divina.
                        - Ah! Ele disse isso?
                        - É. Sabe, eu vim lá de fora e tenho que ir hoje , no ônibus das quatro horas. Queria tanto que ele me atendesse agora. Acho que ele me atende, não é?
                        - Sinto muito, minha senhora, não sei lhe dizer nada, nem sabia que vinha aqui alguém chamado Almir Zaky. Mas com certeza ele deve lhe atender.
                         - Pois é, vou ver se ele pode me atender. Tem tanta gente sempre pra consultar com ele. Até logo.
                         - Até logo. E boa sorte!
                         Ela já havia se afastado um pouco, parou, olhou pra trás e perguntou outra vez:
                        - Será que ele me atende?
                        Eu me limitei a dizer: - não sei, acho que sim, e voltei a andar depressa antes que me perguntasse outra vez a mesma coisa.                       

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