Eu andava na rua, uma tarde, tinha ido ao Banco e retornava ao escritório onde trabalho, quando uma senhora que vinha em sentido contrário ao meu, perguntou ainda de longe:
- Será que o Almir Zaky pode me atender agora? A princípio pensei que não fosse comigo. Afinal, o que eu tenho a ver com Almir Zaky? Continuei andando como se nada tivesse acontecido.
Quando chegou mais perto ela fez a mesma pergunta:
- Será que ele pode me atender agora?
- Ele? Ele quem?
- O Almir Zaky.
- Almir Zaky? Quem é?
- Ué! Não sabe?! Ele vem todas as quartas.
- Ah, não sabia.
- Engraçado, mora aqui na cidade e não sabe. Ele faz a corrente do pensamento positivo. Cura as pessoas só com palavras e a força do pensamento, sem precisar ir a médicos e tomar remédios. Ele sabe tudo, adivinha tudo sem a gente dizer nada.
- Curou quem?
- Não sei, ele disse que já curou muita gente.
- Ah! Ele disse. Eu acredito realmente.
- Disse. E não cobra nada. A gente só dá uma colaboração em troca de umas lembrancinhas abençoadas, lencinhos, livros, fotos, perfumes, tudo com o nome dele ali escrito.
- Abençoadas por quem?
- Por ele, ora. Ele abençoa dizendo uma oração sobre as lembrancinhas e quem usar fica livre dos espíritos maus.
- Espíritos maus? Quem são?
- Ora, mas que pergunta! Devia ir a uma das reuniões dele. Os espíritos maus são os responsáveis por todas as coisas ruins que acontecem, a plantação que não dá, ou até uma dor de cabeça pode ser causada por "eles". Não acredita?
- Claro que acredito. A senhora tem razão. É preciso ter muita fé em Deus pra nos livrar de todos os males.
- É. Ele diz que temos que participar da corrente dele, porque muitos falam, mas ele sabe o verdadeiro sentido da Palavra de Deus. Ele é o escolhido pra falar pra toda gente o que Deus quer dizer.
- Como é que ele sabe que é o escolhido?
- Sei lá, coisa dele lá, acho que ele falou que foi uma revelação divina.
- Ah! Ele disse isso?
- É. Sabe, eu vim lá de fora e tenho que ir hoje , no ônibus das quatro horas. Queria tanto que ele me atendesse agora. Acho que ele me atende, não é?
- Sinto muito, minha senhora, não sei lhe dizer nada, nem sabia que vinha aqui alguém chamado Almir Zaky. Mas com certeza ele deve lhe atender.
- Pois é, vou ver se ele pode me atender. Tem tanta gente sempre pra consultar com ele. Até logo.
- Até logo. E boa sorte!
Ela já havia se afastado um pouco, parou, olhou pra trás e perguntou outra vez:
- Será que ele me atende?
Eu me limitei a dizer: - não sei, acho que sim, e voltei a andar depressa antes que me perguntasse outra vez a mesma coisa.
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